domingo, 29 de dezembro de 2019

Aquela que sobreviveu. Sobre o hiato de 3 anos.

Brasília, 29/12/19. 
19:50h (esse ano não teve horário de verão)

Escolhendo a playlist: Spotify: Nostalgic Sally (merchan... ou não)

<<Deep breaths>> Audioslave: I Am the Highway

É ou não é estranho que eu volte aqui para ter algum tipo de conforto... Incrivelmente nesta data, pós-natal, senti extrema necessidade de escrever aqui. É tão difícil... mas necessário. 

No final de 2018 eu resolvi excluir o grupo do Querido diário blog do whatsapp, também resolvi deletar a página do Querido diário no Facebook. Excluí os livros digitais da Amazon, deletei o app do blog do Google play. Decidi me desfazer de toda a responsabilidade que assumi ao compartilhar com vocês sobre o que aconteceu comigo desde 2010. 

Sim, estou viva, bem, saudável. Não adoeço desde 2016, quando deixei de ser empregada pública. Isso é bom, muito bom, com certeza, mas eu não compartilhei meus motivos. Em 2016, uma amiga (acho que posso chamá-la assim) que conheci por meio do blog não resistiu à doença (a dela era diferente da minha, mas ela usava corticoide) e faleceu. Se me recordo bem, ela não tinha nem 25 anos. Ela foi a pessoa mais alto astral que eu já "conheci" virtualmente na vida. Ela passou por todas as dificuldades com um sorriso no rosto, com uma atitude tão positiva, bem bela maquiada, mesmo quando perdeu seus cabelos... Ao longo dos anos, li notícias de pessoas que não resistiram à luta. 

Fiz da minha missão ajudar no que eu podia, compartilhava toda a minha experiência, servia de palavra amiga, de incentivo, mas eu nunca consegui explicar porque algumas pessoas se foram e outras permaneceram aqui, inclusive eu. Quando decidi deletar tudo, já era porque eu não estava mais suportando o peso das emoções e da responsabilidade que tinha ao lidar com pessoas do Brasil inteiro, muitas vezes desesperadas, querendo ouvir qualquer voz de esperança... e lá ia eu, falar e falar e falar e depois recebia a mensagem que a "pessoa" não resistiu... 

O que eu podia fazer? As pessoas queriam respostas, queriam saber por que elas, queriam saber se tinha cura... e eu só podia falar do que aconteceu comigo, do conhecimento que obtive com estudos, dos tratamentos que eu mesma realizei e isso nunca era o suficiente. Acho que até muitas se sentiram ajudadas e acolhidas, mas eu mesma me sentia insuficiente. Eu sabia o que estavam passando e a minha contribuição era limitada. Não só isso, mas agora, depois de anos sem adoecer, era difícil relembrar tudo que passei, mas eu falava e tentava ajudar mesmo assim. 

Não aguentei, confesso. Acho que é isso mesmo. Eu queria era esquecer tudo. Talvez não me lembrar sempre... mas quando eu fiz isso, quando me afastei, foi quando tomei um tiro certeiro... um golpe tão forte que achei que fosse adoecer de novo de tanta tristeza. Logo após deletar tudo, uma grande amiga, que esteve comigo desde o início desse blog em 2010, faleceu por um ataque cardíaco fulminante em janeiro deste ano... Uma jovem mulher de, sei lá, 24, 26 anos??? Nem sei. Nossos planos de nos conhecermos pessoalmente cancelados para sempre! 

Tanta gente maravilhosa deixando o mundo sem ter nem vivido direito. É muito foda. E o pior, o fantasma dessas doenças vão me assombrar pro resto da vida, sempre à espreita, nas sombras, nas mensagens que receberei e que jamais conseguirei não responder porque eu sei o quanto a gente se sente sozinha neste mundo e mesmo que eu tente esconder ou fingir que nada aconteceu, ainda sou aquela pessoa que vai ouvir sem julgar, que vai ouvir com empatia e que sempre trará uma mensagem de esperança. 

Quero tentar escrever de novo aqui em 2020. Ano marco dos dez anos que adoeci a primeira vez. Queria mostrar como que é possível viver <<apesar>> de tudo. Ao longo de todo esse tempo eu meio que perdi a voz... fiquei com medo e vergonha de escrever exatamente o que sentia e o que acontecia na minha vida. Meus posts do blog foram usados contra mim em uma ação judicial, meu ex-namorado me julgou por coisas que compartilhei aqui... durante esses anos, sofri com essa super exposição. Não sabia mais dizer se valia  a pena ou não. Funcionei no automático. Fico muito triste por isso, acho que devo às minhas amigas uma vida plena, agradecendo todos os dias pelo ar que ainda respiro. É por isso que estou aqui hoje. Porque eu sou a que sobreviveu. 

Até 2020.