domingo, 22 de março de 2020

Manifesto pós-internação. A vida sempre me surpreende.

Ao som de Taylor Swift - álbum Reputation.
Ps: Senta que lá vem história. Post gigantesco.

Nem sei direito como começar a contar o que aconteceu pra vocês. Não é que as minhas preocupações estavam corretas... e eu duvidei de mim mesma numa tentativa de aceitar a minha condição de "doente". Pra vocês verem como a situação de enfermidade causa confusão na vida de alguém. 

Tentei me acalmar com o meu próprio discurso, hahaha! Calma, Sally! Deixa de ser neurótica, Sally! Quanta ansiedade, Sally! Tá tudo bem, Sally! Mas internamente, eu sentia que não estava nada bem. E é sobre isso que eu vim falar com vocês hoje. 

Bom, atualmente, eu estou terminando um mestrado em filosofia e quem já fez mestrado sabe e quem não fez pode imaginar o estresse que é. Existe uma cobrança pessoal gigante para que o trabalho seja feito com qualidade, existe, no meu caso, uma paixão, um amor muito grande pelo tema, existe o anseio de não decepcionar o meu orientador, existem os prazos, os eventos que tenho que participar e apresentar a pesquisa, enfim... No momento, o mestrado é a única grande preocupação da minha vida, então, eu acredito que esse foi o fator estressante. 

Quando postei a última vez, eu tinha ido colher sangue porque estava com os seguintes sintomas: cansaço, queria só ficar na cama, não estava conseguindo comer, era como se meu organismo não quisesse que eu o alimentasse, como se o alimento estivesse me fazendo mal. Eu sentia dor após comer, a minha barriga ficava super inchada e parecia que meu corpo ficava pesado, eu me sentia mal, muito mal. Eu sentia que estava me rastejando pra viver, tudo era difícil, duro demais. Senti e comprovei também taquicardia, os batimentos em repouso chegaram a 124.

Eu cheguei a ir a uma consulta médica com uma generalista disponibilizada pela OAB/DF, mas sem exames nem nada, não havia muito que ela poderia fazer por mim, a não ser dizer que eu poderia estar com dificuldades na digestão. Me passou domperidona e um remédio lá para manipular. Acabou que não deu  nem tempo de seguir as orientações dela. Resolvi partir para o hemograma. Fiz o primeiro exame no dia 27/02/20 ainda para essa queixa. Comprei um pacote de saúde da mulher do Laboratório Sabin que contemplava os seguintes exames: lipidograma, uréia, eas-urina, gama glutamil transferase, glicose, hemograma completo,creatinina, tgo, tgp e tsh. 

Sobre o resultado destes exames, o que mais me chamou a atenção foi a hemoglobina a 11,5; as hemácias a 3,69 e as plaquetas a 97.000, isto porque, desde que tive a anemia hemolítica autoimune em 2010, nunca mais minha hemoglobina tinha abaixado, então foi aí que eu meio que "surtei" porque foi com a anemia hemolítica que eu fui parar na UTI e no momento, eu estou sem plano de saúde, então eu realmente surtei. Mal sabia eu que o meu problema dessa vez seria com os meus leucócitos. Neste exame eles estavam em 700 (mínimo normal: 3600) e os meus linfócitos estavam em 378 (mínimo normal: 740).

Escrevi aquele texto aqui e pensei, amanhã eu colho de novo. Colhi de novo no dia seguinte. Resultado: hemoglobina 10.9, hemácias 3,47, leucócitos 700, linfócitos 350, plaquetas 102.000. Quando saiu esse resultado eu já não "surtei", eu realmente surtei. Liguei para o meu  médico que tentou me acalmar, mas no fundo eu sabia que tinha alguma coisa errada. Nesse momento eu falei com a minha família, todos ficaram super apreensivos também. O meu médico falou que se baixasse de 10 era para eu ir para o hospital. Então no dia 29/02 fiz o terceiro exame: hemoglobina 11, hemácias 3,59, leucócitos 700, linfócitos 343, plaquetas 99.000. 

Neste dia, sábado, 29/02/20, eu senti sintomas de gripe. Fui à farmácia e comprei um remédio pra gripe e uma pastilha pra garganta. Eu tinha tido contato com crianças gripadas durante o carnaval, então achei que tinha pego a gripe delas. No domingo à noite, dia 01/03/20 eu passei muito mal! Ao que tudo indica, eu tive uma crise de asma, quase sufocante e a bombinha não estava fazendo efeito. Eu tinha duas bombinhas aqui comigo, Clenil (corticoide) e Aerolin. Usei as duas durante o dia e principalmente à noite e nada! Meu ar estava realmente reduzido, resolvi pegar um Uber e fui para o hospital público. Chegando lá, fui muito bem atendida, passei da recepção, fui direto pra triagem, e consegui entrar para atendimento e.... NENHUM médico me atendeu. Eu não sei nem quantas vezes eu aspirei a bombinha... mas tentei respirar e me acalmar e finalmente, ali sozinha, a crise passou e eu consegui respirar. 

Encontrei com o enfermeiro da triagem que ficou muito surpreso que nenhum médico me chamou para atendimento... ele falou que eu tinha que fazer nebulização, me passou as medicações e disse que era para eu ir pra casa, já que eu estava respirando de novo porque eu provavelmente não conseguiria atendimento. Depois desse estresse, eu tava tão atordoada que acabei voltando pra casa e não me atentei para o que ele tinha dito, que eu deveria fazer nebulização. Passei a noite inteira com pouco ar e tive que dormir sentada. Durante os intervalos em que eu acordava e dormia de cansaço, procurei uma clínica particular de otorrino e esperei até às 8am para ligar lá e pedir um encaixe. 

Quando acordei, acordei tão sem ar, que qdo eu fui chorar pela minha situação, eu achei que aquele era meu último dia de vida, porque eu não conseguia puxar o ar, ele não entrava direito... Enfim, vou poupar vocês do meu drama, mas fui lá na clínica e uma médica maravilhosa me atendeu e me passou tudo que ela tinha de amostra grátis e me orientou a ir num posto de saúde para fazer a nebulização, pediu para eu fazer raio-x e colher sangue de novo. Saí de lá com máscara e lá fui eu para o posto de saúde da 905 norte, o mais próximo dessa clínica e como eu estava sem ar, não dava pra ir no posto da minha quadra. Cheguei fui prontamente atendida, os médicos foram super atenciosos e finalmente eu consegui respirar. De lá fui direto pra farmácia, comprei os remédios e um nebulizador. 

Quando cheguei em casa, ainda me sentindo com certa falta de ar, resolvi fazer a nebulização de novo por conta própria (não façam isso, criançasssss!!!!) e acabei usando a dose que o enfermeiro havia me passado no hospital... só que eu acho que o enfermeiro, ao tentar me ajudar, acabou passando a dose muito alta... Eu acabei colocando 10 gotas de berotec de uma vez.... usei com atrovent, acho que umas 20 gotas e poco, nem lembro... Só sei que depois que eu fiz isso, eu tive taquicardia, meu corpo começou a tremer e eu sentia uma espécie de calafrio, me senti dopada... acabei resolvendo dormir (mentira, acho que meio que apaguei mesmo) e quando eu acordei, estava melhor. Fui então colher sangue e fazer o raio-x. O resultado do exame de sangue foi o seguinte: hemoglobina 11, hemácias 3,54, leucócitos 520, linfócitos 208, plaquetas 99.000. 

Quando a médica viu esse resultado, ela nem se preocupou com o raio-x que eu tinha levado. Ela me disse que em 20 anos de medicina nunca tinha visto leucócitos tão baixos, acho que os linfócitos também, só em livros. Ela pediu o telefone do meu  médico, ligou pra ele e falou que eu tinha que ser internada. Ele concordou. Saí de lá, vim pra casa, arrumei a minha mochila e fui para o hospital. Cheguei lá, passei pela triagem e por sorte, meu médico ainda estava lá e ele me internou. Diagnóstico: Agranulocitose. Não se sabe se ela causou a infecção respiratória e a asma ou se a infecção e a asma ocasionaram a agranulocitose. O que é agranulocitose?


Em hospitais públicos você é internado diretamente no Pronto Socorro. Não existe leito, não existe privacidade, não existe nada... o meu médico me passou a nebulização, antibiótico e hidrocortisona e eu fui pro PS e ali mesmo, na cadeira que eu sentei, era o meu "leito de internação". Eu acho que vou escrever sobre essa experiência em um post separado, resta dizer que eu tenho mais um trauma para chamar de meu. 

Lá no PS não conseguiram manter o tempo necessário entre uma dose de antibiótico e a seguinte... tomei a primeira dose do antibiótico na segunda à noite e depois demoraram mais de 3h fora do horário de 8h de intervalo para me darem a segunda dose. Também estava com muita falta de ar e não estava conseguindo esperar para fazer nebulização de 6h em 6h. Se as pessoas sobrevivem ali, é por milagre divino, isso eu posso afirmar. 

Enfim, na terça-feira no final da tarde eu consegui ser transferida para um quarto. E aí começaram os problemas com o meu acesso. As minhas veias são muito finas, alguns dizem que são de bebê, e eu perco o acesso muito rápido... Nós só conseguimos regularizar o tempo do antibiótico na quarta-feira. Eu tomei piperacilina sódica + tazobactam sódico, hidrocorticona, acho que 200ml? 200mg? 200 alguma coisa, nebulização 35 gotas de atrovent e 6 gotas de berotec (ao final da internação baixou para 3 gotas), tomei omeoprazol (não me lembro quantos mgs), domperidona. Ao final da internação, passei a tomar 40mg de prednisona e saí de alta tomando 20mg de prednisona. 

A internação durou 2 semanas, do dia 02/03/20 até dia 16/03/20. Em uma semana eu fiquei extremamente inchada, barriga e rosto e "inchei" (não engordei) 5kg, 2,5 por semana. Entretanto, ao final da segunda semana, eu me surpreendi ao desinchar. Vou escrever um post depois sobre essa experiência com o corticoide, foi um divisor de águas pra mim. Cheguei em casa e estava 2kg a mais do que o meu peso normal. 

Então foi isso, meu povo! Adoeci um pouco antes da pandemia do corona vírus, porém, tive uma infecção respiratória que, vou dizer pra vocês, é uma das doenças mais agoniantes eu eu já tive na vida. Não é fácil de lidar. É meio desesperador ficar sem ar e tentar ao mesmo tempo manter a calma, eu diria que é assustador e que tive que fazer uma força sobre-humana para manter a minha mente sã. Em muitos momentos, achei que não ia dar conta. Mas graças a Deus, deu tudo certo. Agora faço parte do grupo de risco e desde que saí de alta estou em quarentena. 

Não sei como vai ser daqui pra frente para continuar o tratamento, porque eu teria consulta na próxima terça para ver questão de medicações e colher sangue e tal... mas parece que os ambulatórios foram cancelados... então não tenho ideia ainda. 

Vou atualizando vocês, conforme as coisas forem acontecendo e depois eu volto para contar como foi a experiência no PS e contar sobre o que aconteceu dessa vez com o uso do corticoide. 

Até lá, fiquem em casa!!! Vamos superar esse vírus!

Abçs a todos!

Sally.










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